Versos de “Ode Marítima”, 1915 (de Álvaro de Campos / Fernando Pessoa) e “Passage to India”, 1869 (de Walt Whitman); pela ordem em que são cantados
(…) O, vast Rondure, swimming in space! Cover’d all over with visible power and beauty! Alternate light and day, and the teeming, spiritual darkness; Unspeakable, high processions of sun and moon, and countless stars, above;
(…) Os paquetes que entram de manhã na barra Trazem aos meus olhos consigo O mistério alegre e triste de quem chega e parte. Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos Doutro modo da mesma humanidade noutros portos.
(…) Chamam por mim as águas, Chamam por mim os mares, Chamam por mim, levantando uma voz corpórea, os longes, As épocas marítimas todas sentidas no passado, a chamar.
(…) No mar, no mar, no mar, no mar, Eh! pôr no mar, ao vento, às vagas, A minha vida! Salgar de espuma arremessada pelos ventos Meu paladar das grandes viagens.
(…)
After the seas are all cross’d, (as they seem already cross’d,) After the great captains and engineers have accomplish’d their work, After the noble inventors—after the scientists, the chemist, the geologist, ethnologist, Finally shall come the Poet, worthy that name; The true Son of God shall come, singing his songs.
Then, not your deeds only, O voyagers, O scientists and inventors, shall be justified, All these hearts, as of fretted children, shall be sooth’d, All affection shall be fully responded to—the secret shall be told; All these separations and gaps shall be taken up, and hook’d and link’d together; The whole Earth—this cold, impassive, voiceless Earth, shall be completely justified;
(…) As viagens agora são tão belas como eram dantes E um navio será sempre belo, só porque é um navio. Viajar ainda é viajar e o longe está sempre onde esteve Em parte nenhuma, graças a Deus!
Walt Whitman Tradução de Maria de Lourdes Guimarães “Folhas de Erva” – Ed. Relógio d’Água
[…] Ó ampla Esfera nadando no espaço, Toda coberta de visível poder e beleza, A luz, o dia e a fecunda escuridão espiritual alternam-se, Indescritíveis e altos desfiles de sol, da lua e de inumeráveis estrelas lá no alto (…)
[…] Depois de todos os mares terem sido cruzados (como já parecem ter sido), Depois dos grandes capitães e engenheiros terem concluído a sua obra, Depois dos nobres inventores, depois dos cientistas, dos químicos, dos geólogos, dos etnólogos, Virá, finalmente, o poeta digno desse nome, O verdadeiro filho de Deus virá cantar as suas canções.
Então não só os vossos feitos, ó viajantes, ó cientistas e inventores serão justificados, Mas também todos estes corações, como se se tratasse de crianças atormentadas, serão confortados, Todo o afecto será totalmente correspondido, e o segredo revelado, Todas estas separações e abismos serão apanhados e presos e unidos uns aos outros, Toda a terra, esta terra muda, impassível e fria será completamente justificada (…)